14:34#

Vim deixar-te um recado junto das fotografias na parede. E não é que eu me preocupe se o nosso amor ainda dá sinais debaixo da tua pele, nas noites de trovoada. Como dá debaixo da minha, ás vezes. Não é que eu me preocupe, sabes. Com isso e com a tua maneira de utilizar as palavras para chegares a nós - "porquê que não tentas ter outra vez o que tinhas?" e eu respondo que -"são momentos que já passaram, que não voltam atrás, percebes?"- e tu dizes que sim. "mas que as coisas podiam ser melhores, com esforço" e eu sorrindo faço um bocadinho de força para os restos do meu amor que ainda corre nas veias, não saltar e correr para ti. Juntar-se ao bocadinho que corre em ti. Porque ás vezes ele tem essa vontade. Quando chove e quando está tempo de trovoada. Mas oh, vim só deixar-te um recado a dizer que a minha alma preocupa-se com a tua. Independentemente de já não pertencerem uma á outra e, de já não ouvirem o som da chuva a bater no telhado juntas. Ela preocupa-se com a tua distraída alma. E essa preocupação já deixou de ser amor. Já deixou de pertencer ao resto de amor que corre nas veias. É diferente. É da minha alma para a tua, com um bocadinho de carinho. Não te esqueças.

12:20#

Bom dia alma. Bom dia coração. Bom dia cama desfeita e café quente na mão. Vim dizer-vos que hoje podem descansar. Desligar os vossos sensores de segurança e não se preocuparem comigo. Porque hoje não quero ser o sorriso fechado, e a ignorância em pessoa. Quero amar um bocadinho, o mundo. Só hoje, para deixar a Lua de boca aberta.

12:46#

E hoje, apetece-me deixar um bocadinho de ti aqui, ou ser um bocadinho de nós, em breves minutos. Umas palavras que não vais ler e que não são para leres, porque o nosso amor não quer. Mas que, não deixam de ser para ti. Apetece-me pensar na alma que um dia se apaixonou e que sempre o negou. Apetece-me imaginar uma alma de palavras doces e de sentimentos assumidos que nunca fui, ou nunca me deixei ser. Apetece-me sonhar com a alma que escuta com atenção e de caneca na mão, a tua voz alegre no ouvido. Ou sente a tua mão fria debaixo da blusa e que ri com arrepios. Ser a alma que recebe um beijo na testa e te empurra ou agarra. Depende da Lua. E da Lua depende o meu sorriso. Oh.. apetece-me ser doce e falar sobre ti e sobre o nosso quebra-cabeças. E que quebra-cabeças, não era? Às vezes, à noite, a minha alma ainda tenta compreendê-lo, quando se cruzam junto da almofada e observam a Lua, mas sabe bem que não é possível. Também me apetece dormir umas horinhas, porque a falta delas está a deixar-me pouco coerente. E oh, estou a sonhar connosco, vês? estou a dormir contigo na casa de madeira com a lareira acesa e a chávena na cómoda. Porque oh, em breves minutos, vim deixar aqui um bocadinho de nós.

00:49#

Bolas, hoje está frio,está mesmo muito frio, e nem a caneca de café consegue aquecer-me a alma. Nem ela, nem um dos últimos cigarros que fumo. Vou finalmente deixá-los. Não me conseguem aquecer a alma, logo hoje que ela está tão distante. E eu queria-a aqui ao pé de mim,quentinha. Não dormiu nada a noite passada e hoje ainda não se cruzou com a Lua para lhe contar o seu dia, já nem se vai cruzar, a janela já está fechada, porque oh, está frio. Está frio e a minha alma está distante, e está distante porque a tua alma veio sussurrar-me ao ouvido. E bolas, elas já não se cruzavam nas mesmas palavras à tanto tempo, não é? secalhar foi isso. Pregaste-lhe um susto e ela fugiu. E fugiu porque tem frio e tu costumavas aquecê-la. Fugiu porque se estivesse aqui tu aquecias-a, como aqueces sempre. Porque mesmo sem tropeçarem em palavras,tropeçam nos olhos,uma da outra.

22:16#

Tenho a minha alma cansada. Cansada mas calma e, acima de tudo, de volta. Depois de me ter deixado uma série de noites a beber café frio da caneca, sozinha, e de me ter obrigado a desejar boa noite à Lua, também sozinha. Ela voltou. Oh, e no final é só mesmo isso que importa. Eu e ela juntas, como sempre. Ela volta e dá-me a mão à noite. E sorri para a Lua, comigo. Ela volta e dá-me um abraço de força e eu respondo-lhe que está tudo bem. Como sempre. E ontem foi assim. Sentada no terraço frio, enquanto todos as outras alminhas dançavam lá dentro, estava eu com um cigarro entre os dedos, prevendo já o futuro deste mesmo, assim como todos os que o antecederam e os que ainda viriam. Escondidos algures entre a minha bota e o chão. Apagados pelo que restou dentro de uma das garrafas de cerveja. Todos eles guardando um resto de mim e um resto da minha alma, que cada vez tem menos para recompor dentro dela. Ao meu lado, ela sorria, admirando a Lua, quando esta de vez enquando se desviava de uma nuvem para dizer-lhe olá. Sorriam ambas e observavam o meu estado menos sóbrio,porém calmo. Depois do último bafo, sorri, enquanto a Lua me dava um beijinho na testa de boa noite e a minha alma me dava um abraço de força. Está tudo bem, respondi.

01:26#

Está frio lá fora. Tanto, que a minha caneca de café arrefeceu, demasiado depressa. A minha boca secou e os meus sentidos perderam-se na noite. O café soube-me a pouco, muito pouco até. Não me aconchegou a alma, nem tão pouco me fez senti-la. Acho que ainda não disse, mas não sei dela. Pegou nas suas botas de tropa e fez-se à estrada. Nem sequer olha para trás, para ver se estou bem. É certo que se o fizesse eu sorriria, porque não gosto nada que se preocupe. Eu sorriria, mas ela não olha. E eu também não vejo as suas pegadas fundas na lama nem o seu sorriso na Lua. Está tanto frio lá fora e ela anda por aí sozinha. Está frio, mas eu vou esperar por ela debaixo dos lençóis. Com um novo café quente junto da cabeceira e um cigarro de boas vindas, porque mesmo com a sua doce arrogância ela é sempre bem vinda a casa.
E eu não devia, sabes. É errado e eu não devia porque prometi-lhe que iria afastar-me das noites escuras e de tudo o que elas me dão. Mas lá estava eu, perdida num parque com um cigarro entre as mãos e um gosto amargo na boca, sem falar da voz que a Lua soltava, tão semelhante à tua. E eu não devia mas voltei a deliciar-me com um cigarro, é verdade. E com as memórias gastas desenhadas na Lua. E eu não devia mas tenho medo. E tenho medo porque a Lua quer me dar uma alma nova para tornar a minha numa melhor. E eu tenho medo porque a minha alma é amarga e a tua também, mas a dele não.

00:10#

Fechei os olhos. Peguei na chávena de café quente e levei-a à boca. O tempo não estava desagradável, mas também não estava calor. Estava fresco, e eu até gosto dele assim. Estava a chover e isso apenas se tornou num grande bónus. Eu gosto da chuva, mas acho que isso não é novidade nenhuma por aqui. E gosto muito de Lisboa, vê lá que a esplanada do café quente, é mesmo na avenida. E esqueci-me de dizer que estava de noite. Oh, minha doce noite. E minha doce Lua. Da minha cadeira, dava para ver a Lua. E olha, eu ri-me para ela com um certo receio, é que ultimamente não temos comunicado muito, mas acabei por receber um sorriso também. Ela disse-me que não sabe em que caminhos te tens metido nem como é que anda a tua alma. Eu sorri e disse-lhe para não se preocupar, com certeza essa alma anda bem. Voltei a pegar na chávena e foquei-me numa música de fundo que depressa chegou ao fim. Levantei-me e fui perder-me numas tantas ruas lisboetas. Não me preocupei com as horas que eram, nem muito menos com o tempo que demorei a chegar a casa. Gosto de chuva, mas não gosto de chapéus de chuva. E é caso para dizer que nas minhas pestanas embatiam gotas que depressa se transformavam em manchas de maquiagem preta. Abri os olhos e reparei que não tinha nada de que me queixar. Afinal, tinha tudo aquilo que me acalma a alma. E por falar em coisas que me acalmam a alma, existe uma outra coisa que me tem acalmado a alma, ou melhor, não a tem perturbado.. são as saudades que ela não tem tido.