Sabes, oh tu que todos chamam de amor, eu tenho medo de ti e prefiro ignorar-te do que enfrentar-te e magoar-me. Acho que na verdade sempre me dei bem sozinha,nunca precisei de andar a morrer de amores, se é que me entendes. Não penses que sou egoísta, nada disso. Sou apenas assim. Eu. E aqui só para nós, quando digo que não gosto de ti, não quer dizer que não saiba o que é o amor ou até mesmo o verbo amar. Aliás, talvés por um dia ter amado demais, hoje não te quero por perto, desenrasco-me bem assim amor, sem amor.
25.
Já a madrugada ia a meio quando ela se lembrou. Saíu de casa e subiu a infindável escadaria até ao topo do prédio, sempre com o devido cuidado para que ninguém desse pela sua presença. Subiu e sentou-se numa das telhas. Numa das mãos trazia o seu belo café. Forte como sempre. Na outra, o seu maço azul de uma marca barata. Ela sempre tivera preferência por marlboro mas naquela noite a marca pouco ou nada interessava. Apenas queria um dos seus calmantes. Aquele, o café e o telhado. Sentou-se e deliciou-se com o cilindro que tinha entre os dedos, acampanhando sempre com um golo do tal café. Era a combinação perfeita que ela tanto precisava. Presentiu que não iria dormir nada e então deixou-se deslizar pela telha até que esta ficou complectamente coberta pelo seu pequeno corpo. Após um grande suspiro e um vento que levou para longe as longas memórias que lhe albergavam a mente, olhou para o céu para ver se avistava alguma estrela. Mas nada,estava limpo e escuro.E por momentos, ela desejou ser o céu. Limpo e escuro.
23.
Já esperava que tal voltasse a acontecer. O teu regresso. Quando as coisas não estão bem, fugimos,voltamos costas e ignoramo-nos a 100% e assim foi, mais uma vez, durante estes 2 meses que passaram. Não foi a primeira vez e acho que não será ainda a última. Ás vezes acho que gostamos disto, desta luta em que ninguém ganha e ninguém perde. Em que partimos e voltamos. Mas bem, voltaste. Foi uma noite cheia de ti em que me senti vazia. Sei que não faz qualquer sentido mas também não tenho palavras para explicar. Era suposto sentir-me apaixonada. É à noite que o orgulho fica mudo e o coração ganha voz,lembraste? mas isso não aconteceu. Esta noite estavam os dois calados e de um certo modo calmos. Não senti nada. Ou melhor, senti pouco. Acho que voltei ao principio, ao primeiro dia, onde era apenas eu, forte e bem, sem ti. Esperava o teu regresso mas não esperava,de certo modo, esta minha distância.
E isso assusta-me.
não faz qualquer sentido,sabem?
É complicado e complexo. São vozes que já não se ouvem. São passos lentos. Seguidos de uns mais apressados. Não são rápidos. Penso que são passos de quem quer ficar, ou então quem ainda não quer ir ou não sabe para onde ir. Agora sinto quente. Como se de uma respiração se tratasse. Talvez a minha a tentar fazer-se passar por outra, ou então seja mesmo outra, vinda do pretérito perfeito. Vejo também sombras e tenho a certeza que as reconheço. Sei que sim. Num outro tempo,vivi nelas e elas em mim. Se é que isto faz algum sentido. Mais uma vez digo,é complicado e um pouco surreal.Agora, não oiço nada. Ou melhor, oiço água a cair. Acho que não é uma fonte.Parece-me que alguém chora. Vejo manchas de sal sob a cama. Não estou doida, sei que não. Mas também não estou de cabeça sã. Continuo a ouvir as vozes, sei de cor os passos apressados e o quente continua quente e frio ao mesmo tempo, tal como acontece quando se respira. Continuo a ver as sombras e reparei que são ainda mais familiares do que à segundos atrás. A água já não corre, mas as manchas permanecem. Tenho sono. Secalhar é isso. Ouvi chamarem de insónias e também de memórias. Aposto na segunda.
um banho e uma caneca de café.
Tenho a certeza que nos finos lençóis que cobrem a minha cama, estão desenhadas uma série de linhas, provocadas pelas diferentes posições em que me tentei adormecer. Tenho a certeza que se hoje a minha cama pudesse falar, me mandaria à merda. Foi realmente uma má noite. Não tive estranhos sonhos nem pesadelos horriveis. Nisso tive sorte. Apenas tive sono e não consegui dormir. Estranho, eu sei, mas vindo de mim ou da minha consciência, já esperava. Foi uma má noite. Talvés porque apenas presente se encontrava apenas o meu corpo, sob a cama. Tinha a cabeça longe. Bastante longe. Acho que foi tentar dormir em lugar alheio e deu-se mal.
17.
E se hoje sonhássemos? Dizem que faz bem. Enconstar a cabeça sobre a almofada e aninhar-me nos lençois. O resto vem com a noite. É realmente bom e confesso que tenho saudades de uma boa noite. Fechar os olhos e deixar a pequena parte da alma que costumava sonhar, sonhar um pouquinho mais hoje. Faz-lhe bem. Fechar os olhos e acordar com a pintura borratada. E não, não é de gotinhas salgadas, mas sim devido a todas as voltas que alma deu enquanto se enchia de sonhos. Só esta noite.
15.
Preciso de me despedir disto. E não não me refiro ao blogue. Refiro-me realmente a ti e a um pouco de tudo. Preciso de me despedir por inteiro. Sei que já tinha dito que deixaria de escrever sobre ti e não cumpri, por isso, desta vez digo apenas que não publicarei. Preciso de me despedir disto. Da importância que dou ás linhas que escrevo sobre ti. Despeço-me também de mim. E confesso que isto está a trazer um ligeiro medo, é estranho. Sempre detestei despedidas e ultimamente parece que é o que melhor sei fazer. Ou talvés não saiba e apenas precise. Preciso de uma boa ressaca e um novo começo.
no fim,foi só isto que restou.
Nunca perdoei o que quer que fosse. Sempre confiei pouco, muito pouco e quando confiei, confiei de plena consciência. Talvés por confiar pouco, pouco perdoei. Não gosto de perdoar, assim como não gosto de confiar. São dois verbos com os quais sempre tive pouca ligação. Confiar e perdoar. Sempre tive maneira estranhas de lidar com as coisas e até mesmo de gostar das pessoas. Talvés por isso tu tenhas virado o meu mundo de pernas para o ar. Perdoei-te como nunca perdoei. Confiei como nunca confiei. Gostei como nunca gostei. No fim? lixei-me. No fim? as minhas maneiras não eram assim tão estranhas, apenas realistas.
são vicios.
Apetece-me satisfazer o vicio. E não, desta vez não és tu. Nada tem a ver contigo. Poderia ser como já aconteceu tantas vezes, mas hoje não. Poderia apetecer-me roubar-te um beijo ou então matar saudades de um longo abraço mas não, também não. Ouvi melodias que me tentaram transportar para longe daqui,para um pouco mais perto de ti. Mas recusei. Visualizei imagens nossas, mas não deixei que estas se tornassem nitidas. Até isso recusei. Fui realmente forte. Mas assim como há vicios bons, há uns menos bons.Assim como para matar um podemos ter de satisfazer-nos com outro. E isso acontece comigo. Para manter-te longe da parte que ainda controlo, aproveito-me da nicotina. Aqueles 0,6mg de nicotina e 8mg de alcatrão.E que bem que ela te mata. E a mim também.
09.
Nunca quis aprender a sentir com o coração. Nem quero. Somos companheiros fiéis. Mas cada um com o seu espaço. Ensinei-o a ser forte e a ver as coisas tal como elas são. Tudo o resto, aprendeu sozinho. Aprendeu a ser independente. E aprendeu que eu nunca quis que ele sentisse. É complicado, frio e estranho. Aliás, é tão estranho que acho que aprendeu a sentir sozinho,apenas quando quer. E a curar-se também. Tem dias em que se perde um bocadinho, mas acaba sempre por voltar ao inicio. Ele conhece o seu caminho.
se eu fosse um dia o teu olhar.
Se eu fosse um dia o teu olhar, mudava-te. Fazia-te ver a vida com outros olhos. Olhares os que te querem bem e sentires orgulho neles. Se eu fosse um dia o teu olhar, dizias 'amo-te' a quem merece. Quem não merece mandavas à merda. Se eu fosse um dia o teu olhar, fazia-te sentir. Ensinava-te a ver e a observar. Aprenderias a sentir com os olhos. Mas a sentir asério. E percebias o que eu sinto, através do olhar. Mas como não posso, espero que um dia aprendas. Por ti. Sozinho. Espero que os teus lábios possam sentir o sabor salgado do teu olhar. Iria fazer-te bem. A mim fez. Aprendi à custa do que os teus olhos nao mostram e estoui bem. Estou mesmo.
os meninos mordem as velas e eu peço apenas um sinal teu.
Vá lá, liga-me. Liga-me e deseja-me um dia feliz. Ou então manda-me uma mensagem a dár-me os parabéns. Faz-me sentir-te, vá lá. Qual quer que seja o modo. Lembra-te. Lembra-te de mim. Hoje é o meu dia. E os meninos costumam morder a vela e pedir um desejo,não é verdade? E eu estou a pedir, lembra-te de mim.És o meu desejo. Mas não me entendas mal, já não desejo o teu corpo nem o teu amor, apenas quero que te lembres de mim, basta hoje. Dá-me a prenda da tua voz ou o silêncio da minha ao receber uma mensagem tua. Vá lá. Eu sei que te lembras. Não me faças passar este dia sem um único sinal teu.
Sinto-me uma daquelas crianças que espera um telefonema de um pai trabalhador, daqueles que vai para longe e que mesmo assim, todos os dias espero que se lembre de mim,sabes? merda.
não quero que doa.
Hoje, não foi um bom dia. Talvés mais ou menos. Senti-me umas quantas vezes vazia, distante para ser precisa. Senti o teu cheiro,não sei muito bem onde, mas senti. Apeteceu-me agarrá-lo e deixá-lo junto à almofada, para sonhar com ele, em ti e em mim, como costumava fazer todas as noites. Já era ritual. Guardar o teu cheiro, tê-lo por perto e sonhar com ele, sabendo que cedo voltaria a tê-lo em mim. Apeteceu-me. Assim como me apetece ligar-te em privado. Só para ouvir a tua voz de forte. Não foi um bom dia e passaram-me variadíssimas coisas pela cabeça,mas sei que não quero que a metade que ainda se lembra de ti doa.
de volta.
Estou de volta a casa. Arrumei o conjunto de malas e deixei o corpo cair sobre a cama. Troquei o sol quente que tantas energias me devolveu pelo barulho e o cheiro a cidade. Estou de volta e bem. Com novas energias.
um amor pela metade.
Sempre fomos adeptos das metades. Sentimos muito pela metade. Uma metade muito igual e muito diferente. Uma metade que sofre, mas pela metade. Uma metade que procura melhor. Procura sempre melhor. Um melhor que nunca é suficiente. Um melhor que é pouco. Uma metade que dá um tudo que é nada. Uma metade fraca e forte, ao mesmo tempo.Um amor pela metade. O teu amor preferido. Dar-me um amor pela metade. Uma metade que me mostrou ser maior, um amor que ocupou mais de metade do suposto. Um amor pela metade que nunca dei como sendo metade de mim. Foi sempre mais. Ainda falo de ti,falo no pretério perfeito,mas apenas porque metade de mim, ainda se lembra de ti, apenas metade.
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